sexta-feira, 30 de abril de 2010

A MEIA LUA

A noite é a sombra do dia, persegue-o mas nunca o apanha, e ele olha para ela como um esquizofrénico para as pessoas que inventa. Perturba-se se lhe liga, descansa se a deixa viver em paz. Não a quer matar, já deixou de pensar nisso. É ele quem lhe dá brilho e, por mais que faça, não consegue apagá-la. A obsessão foi vencida e o sol sabe hoje também que, por mais que a lua faça, não consegue apanhá-lo. No entanto, mantém-se a dúvida sobre se não estarão eles à espera de uma distracção um do outro, ou apenas à espera um do outro, como se tivessem entendido que o seu destino natural seria encontrarem-se, identificarem-se, viverem juntos, felizes para sempre.
Nós somos assim, eu e eu, primeiro, eu e tu, depois.
Cada dia que passa desde que deixei de me perseguir, embora ainda sinta a força do hábito nas pernas, apercebo-me de que estou mais perto de mim. Estou mais perto de tudo, na verdade, pois descubro as coisas numa intensidade diferente, menos condicional, que progressivamente me indistingue delas, ou seja, me aproxima e afasta, me totaliza.
Já não falta muito para viver contigo, feliz e para sempre. Falta-me apenas reconhecer, feliz, que sempre vivi contigo.

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