quinta-feira, 5 de julho de 2007

GAJAS

Pereira nasceu Pereira, mas queria morrer Júlio. Detestava continuar, para ele continuar era morrer. E morrer Pereira, isso não. Orlando, já morto, amava o mundo. Foi, aliás, o seu único amor. Aquele pelo qual morreu. Mas morreu para quê, se quando morto se afastou justamente desse amor? Era assim, ninguém o compreendia. E era obsessivo, porque, mal morreu, foi logo para outro mundo. Repetia-se, como eu estou a fazer agora. Pereira não. Pereira era a novidade. Acho que, nele, a única coisa que se mantinha era mesmo o nome. O certo é que, em vida de Orlando, não havia amigos como Orlando e Pereira. Davam-se mal. Mas davam-se. A Orlando, os amigos passavam a vida a dizer: “Pá, especifica-te, não sejas tão lato!”. A Pereira, os amigos, que eram os amigos do Orlando menos o Pereira, diziam exactamente a mesma coisa. Talvez por isso, quando Orlando morreu, Pereira ouviu os amigos. E mudou de nome. Para Júlio.

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