Um dia destes recebi uma carta que dizia: “As algálias submarinas que inviabilizam a combustão do seu notário serão combatidas com estrepitosa e humedecente bavaroise“. Logicamente, de tudo isto o que me pareceu mais estranho foi o “do”. Não, é que “do” meu notário, quando poderia ser “do” ou “o” meu notário, na perspectiva de quem usa não faz sentido. Mas o facto é que a carta lá estava, caída, à espera da minha mão.
Vim para dentro e sentei-me no sofá, a analisá-la dos pontos de vista semântico e arquitectónico. Era sem dúvida um caso para o meu Licínio. “Ó Licínio!”, gritei, mas nada. Depois ri-me, claro: não conhecia nenhum Licínio. Há já vários anos que me dava disto. Inventava pessoas para encobrir a minha solidão. De repente, mesmo tacteando a carta com os meus nove dedos (o décimo estava lá fora a bater à porta), pus a hipótese de ela própria ser uma invenção, o que configurava algo de ainda mais estranho.
Tomei banho, vesti-me com a melhor roupa do guisado anterior e saí sem saber para onde, mas determinado como se me apontasse à última carruagem da felicidade. A uns dez metros de casa, tropecei noutra carta. Dizia: “Fiolhais, se passas mais uma vez no Realejo, pá, podes ter a certeza de que as ganaderias de Monsanto vão ser afectadas ao défice”.
Mais curta e concisa, esta dava-me uma acção. Ao menos isso. Percebi que precisava de um narrador, mas ali perto só havia lojas de fios. Vagueei, vagueei, até encontrar um estudante. Fez-se luz. Digo eu para mim: “O gajo que escreveu a primeira carta é igual à soma das empadas VIP”. Estava radiante.
Voltei para casa a correr com aquele frenesim de pôr tudo em pratos limpos, mas antes passei só nas Galerias Cebolo, que me fazia jeito. Porquê? Não, por nada, é outra história. Tem a ver com uns outdoors. Bom...
Retemperado, já de chinelos postos, fui dar um beijinho às santolas. A santola 1 dormia profundamente, a 2 está tão habituada a que eu vá lá despedir-me que não consegue adormecer sem um bom par de estalos. Eu sentia-me bem por poder, finalmente, encher o meu copo de whisky e bebê-lo a conta-gotas deitadinho no sofá. E foi o que fiz. No dia seguinte ardia-me imenso a plebe.
Vim para dentro e sentei-me no sofá, a analisá-la dos pontos de vista semântico e arquitectónico. Era sem dúvida um caso para o meu Licínio. “Ó Licínio!”, gritei, mas nada. Depois ri-me, claro: não conhecia nenhum Licínio. Há já vários anos que me dava disto. Inventava pessoas para encobrir a minha solidão. De repente, mesmo tacteando a carta com os meus nove dedos (o décimo estava lá fora a bater à porta), pus a hipótese de ela própria ser uma invenção, o que configurava algo de ainda mais estranho.
Tomei banho, vesti-me com a melhor roupa do guisado anterior e saí sem saber para onde, mas determinado como se me apontasse à última carruagem da felicidade. A uns dez metros de casa, tropecei noutra carta. Dizia: “Fiolhais, se passas mais uma vez no Realejo, pá, podes ter a certeza de que as ganaderias de Monsanto vão ser afectadas ao défice”.
Mais curta e concisa, esta dava-me uma acção. Ao menos isso. Percebi que precisava de um narrador, mas ali perto só havia lojas de fios. Vagueei, vagueei, até encontrar um estudante. Fez-se luz. Digo eu para mim: “O gajo que escreveu a primeira carta é igual à soma das empadas VIP”. Estava radiante.
Voltei para casa a correr com aquele frenesim de pôr tudo em pratos limpos, mas antes passei só nas Galerias Cebolo, que me fazia jeito. Porquê? Não, por nada, é outra história. Tem a ver com uns outdoors. Bom...
Retemperado, já de chinelos postos, fui dar um beijinho às santolas. A santola 1 dormia profundamente, a 2 está tão habituada a que eu vá lá despedir-me que não consegue adormecer sem um bom par de estalos. Eu sentia-me bem por poder, finalmente, encher o meu copo de whisky e bebê-lo a conta-gotas deitadinho no sofá. E foi o que fiz. No dia seguinte ardia-me imenso a plebe.
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