terça-feira, 3 de julho de 2007

PONTO

Aquele riso quebrado, tipo gaivota, dava-me cabo dos nervos. Isso e o falar à bebé, um clássico do pós-coito: sequenciava onomatopeias de mau hálito a milímetros do meu nariz, como quem faz bolas de fumo, convencida de que lhe ficava bem. Eu já não a podia ver à frente, andava mesmo agoniado, mas não tinha coragem de a pôr a andar. Custava-me imenso a ideia de ser eu a acabar com o relacionamento, porque achava que a ia fazer sofrer mais e não suportava arcar sozinho com as culpas disso. Então sofria eu. Espumava. E explodia, claro. Volta e meia rebentava-lhe o focinho. Era como um bálsamo, aquilo sabia-me pela vida que eu não tinha. Depois, pronto, fazíamos as pazes, íamos para a cama e lá vinha o infantário do mau hálito. Isto era cíclico, inescapável. Eu olhava para o hamster dela a correr na roda e ficava roído de inveja. Até que um dia decidi matar-me. E matei-me.


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