sábado, 7 de julho de 2007

SIGA

Eu estava ali, tenso, emaranhado, ansioso, à espera de uma pequena aberta no fulgor do trânsito para atravessar a rua. Sabia que não podia tremer, caso contrário atravessava-me a rua a mim. Para evitar isso, no entanto, tinha de atravessar primeiro outra rua, que me punha ainda mais tenso, emaranhado e ansioso. Era a minha rua. Tinha de passar para o outro lado, o meu lado tranquilo, lúcido e paciente. E aí, naquele preciso momento, o trânsito estava tão infernal como me parecia o meu problema. Pensei então que se engolisse a minha rua talvez me fosse permitido ficar ali, do lado de cá da outra rua, parado, invisível. Fi-lo, mas o sangue quente dos carros vomitou-me a rua de volta. Sem escolha, levantei o dedo. As duas ruas ficaram, por um momento, a olhar uma para a outra. E eu, o melhor que pude, atravessei a rua que se desenhou entre elas.

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