quarta-feira, 16 de junho de 2010
JÁ TIVE E DEI-AS
Uma ideia é um perigo. É um sugadouro, puxa-nos pelos pés e lá vamos nós ter com ela, mesmo que tentemos levantar-nos e voltar a caminhar para a frente. As ideias são os argumentos do ego, chamam-nos à nossa dimensão corpórea, finita, destacada, parcial. Dizem-nos que o melhor é separarmo-nos dos outros, sermos melhores do que eles, por elas e com elas. Ocupam-nos de as trabalhar, de as melhorar, de as limar, a reboque dessa promessa, que, claro, nunca se cumpre. São sempre precisas mais ideias, ideias atrás das ideias, até à ideia final, da qual não fazemos ideia. O ideal seria deixar as ideias fazerem-nos, deixar os pensamentos terem-nos, deixarmo-nos possuir pelo princípio único de tudo o que existe. Talvez então a vida deixasse de ser, para nós, apenas uma ideia, apenas um perigo.
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